Microperformance
é um conceito que reacende a discussão sobre as fronteiras entre vida e arte. O termo foi cunhado em 2013 pelo artista Danib.a.r.r.a e desde então já foi incorporado em estudos acadêmicos, pesquisas artísticas e em ações espontâneas cotidianas. Compartilha da ideia de arte encontrada em Nietzche e em Beuys engendrando uma tentativa de desinstitucionalização tanto do lugar do artista quanto do lugar da arte. O prefixo micro aponta a importância dos fluxos moleculares da micropolítica de Deleuze e Guatarri impulsionando a insubordinação anárquica da contracultura promovida por Hakim Bey. Em pleno século 21 a materialização das microperformances é muito difundida em memes e audiovisual de situações cotidianas pouco comuns que circulam nas redes sociais.
Primeiras Considerações, 2013
Microperformance é um conceito em constante construção. Pressupõe uma postura afirmativa, um sim à vida e ao corpo, propondo participação, diálogo e criação no curso da vida cotidiana.
Atuando no borrão fronteiriço entre arte e vida, uma microperformance deixa de ser um produto artístico para se tornar ações de uma "vida artística", uma vida que deseja ela mesma ser obra de arte. O performador passa a ser inexoravelmente afirmado como agente social, e vice-versa, artista e cidadão estão confundidos. As ações muitas vezes são camuflagens, pequenas sabotagens ou poesia despercebida no gráfico estático das convenções cotidianas.
O aspecto efêmero de uma microperformance lhe confere uma potência de invisibilidade usada como estratégia para liberação de uma zona autônoma temporária, fluxos de um desejo intenso que escapam das máquinas sociais de repressão e dispositivos de poder. O urbano passa a ser ocupado-vivido de modo a produzir fissuras em seu próprio chão, rachaduras no concreto duro controlado pelo Estado, ao passo em que dançamos linhas de fuga xamânicas que escapolem antes mesmo de serem identificadas.
Espontâneas ou articuladas, solitárias ou em bando, as microperformances formam uma estratégia para retomar a capacidade de tornar-se a arte que se experiencia e de ainda respirar liberdade e autonomia pelas arestas da criação. O cotidiano passa a ser experimentado em suas possibilidades criativas, não usuais, produzindo novos modos de vida no próprio corpo, em casa, no bairro, na rua, no trabalho.
Plataforma de Pesquisa e Criação em Microperformance - projeto contemplado pelo programa ProaC Aprimoramento Técnico Artístico 2015 da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo
...em algum lugar entre os happenings dos anos 60 e as cotidianas intervenções extraordinárias, as microperformances escapam...
A Plataforma de Microperformance foi criada em 2014 para organizar o conceito de microperformance desenvolvido anteriormente por Dani Barra nas suas oficinas e laboratórios de criação, à partir das ações do performer e artista visual Flávio Pons. Desde então ela serve de ponto de atravessamento entre as ruas, espaços autônomos e instituições destinadas à arte, por onde já passaram diversos artistas e profissionais da cultura, ativistas, provocadores e figuras emergentes. Nossas atividades incluem produções artísticas e ativismo, ações formativas, intervenções em espaços públicos e privados, terrorismo poético, ocupações, redes de articulação, pesquisa teórica e pequenas publicações. Nosso grupo no Facebook tem cerca de vinte mil membros, contamos com uma Biblioteka com mais de 200 títulos disponibilizados ao público, e já atuamos em várias cidades do Brasil. Em 2015, com a adesão dos artistas Dani Spadotto ePaulo Bittencourt a Plataforma de Microperformance foi contemplada pelo ProaC Aprimoramento Técnico-Artístico - da Secretaria da Cultura de Estado de São Paulo, verticalizando sua pesquisa e intensificando suas atividades.
- Realizamos dezenas de ações performáticas e mais de 30 eventos entre oficinas, palestras, encontros e aberturas de processo em espaços culturais dos mais diversos, alternativos e institucionais, na rua e em ocupações de espaços públicos e espaços privados ociosos
- Focamos nossas atividades no centro de São Paulo, mas passamos também pelas cidades do ABC paulista, Baixada Santista, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Luís do Maranhão e Belém do Pará
- Nosso grupo no Facebook atingiu 11 mil participantes em 2016
- Participamos das Ocupações: Ouvidor 63, Tm13, Casa Amarela e Parque Augusta
- Criarmos articulações com os projetos Hub Livre, Ônibus Hacker, Vila Itororó, Cine Canteiro, Ocupação dos alunos da E.E. João Kopke, CCBB Música Performance, Instituto Volusiano
- Trocamos com os artistas Paulo Nazareth, Flávio Pons, Lúcio Agra, Graziela Kunsh, Felipe Brait, Fabi Borges, Samira Borovik, Rogério Borovik, Gustavo Saule, a ativista Ana Banin, o filósofo Amauri Ferreira, entre tantos outros que cruzaram nossas atividades
- A microperformance foi objeto de pesquisa de estudantes em formação acadêmica em arte, por orientação de professores, que nos procuraram ao longo destes anos
- Confeccionamos 3 Zines em papel reciclado, que foram distribuídos gratuita e estrategicamente nas ruas e também sorteados na internet https://www.youtube.com/watch?v=Y2hZK-zq6o8
- Criamos a Biblioteka Microperformance com os nossos mais de 200 livros sobre arte, filosofia e assuntos pertinentes, aberta ao público gratuitamente na Casa da Luz, no centro velho de São Paulo
- Produzimos textos e material audiovisual inclusive com tradução para o espanhol, inglês e francês
- Com certeza estamos esquecendo algo entre tantas coisas que fizemos. Agradecemos a todxs que compareceram, trocaram e colaboraram !
- A partir de 2019 abriremos novos caminhos mantendo nossa base forte. Axé!